Em construção. Praticamente um canteiro de obras.

Postagem pra Pular da Cama de Madrugada



Vale lembrar que de, dentro de uma lista de todos os defeitos que existem, há pelo menos alguns que a gente não pode tolerar. Aqueles 'lista negra'. Não mesmo. Alguns você tolera. Nem ligo pra pessoas que "se acham". Tá, você tem o rei na barriga e no resto do corpo? Beleza. Concordo com você. Mudo de calçada e sigo adiante.


Mas não sei lidar com a tal 'soberba'. Principalmente entre amigos. Pra que eu não esteja me contradizendo, dizendo 'arrogância' e 'soberba', pra mim soam levemente diferente. O suposto arrogante se acha melhor e pronto. Acha que a festa tá ruim, vai embora, pois 'não suporta ficar no meio desse tipo de gente'. A comida é ruim, força o vômito e vai embora. Ele vai embora e pronto. Mas o bichinho da soberba é o pior. Até o som dessa palavra com esse encontro consonantal 'rrrrb' me dá arrepios. Vejo a bruxa Soberba diametralmente oposta em 180 graus à louvável senhora HUMILDADE. A arrogância é uma filha mal-criada, que fica numa orbe de 5 a 10 graus.


Acho que existem lugares bons pra morar e lugares ruins. Comidas boas e comidas ruins. Lugares bons pra frequentar e lugares ruins. Música, arte, vivência, cultura boa e ruim. Pessoas de nível alto, cultas e pessoas de nível deprimente, por inúmeras razões que a mim nem cabe muito explanar. Entrando na questão 'gente', na minha profissão de professor, lido com todo tipo de gente. Gente rica, gente pobre. Gente boa, gente OMG. E como diria Caetano, gente é pra brilhar, não pra morrer de fome. A fronteira entre o nível 'bom' e 'ruim' em pessoas, ao contrário do que se pensa, é tênue. Pra mim, entrou na perspectiva de pessoas, é até difícil de falar em 'nível alto' e 'nível deprimente'. A favela do Alto da Sereia mostrou que é (ou que já foi, sei lá) cult e o Corredor da Vitória toca o Silvano Salles (não vou entrar no mérito de SS, deixa isso pra outra postagem). Tem gente crânio na favela, sobra gente estúpida nos palacetes e condomínios da minha cidade. Muitas não tem culpa de ter nascido do alto do seu bairro nobre. Outras nem sabem por quê (ou não tem oportunidade) não conseguem sair da favela. Enfim. Digressões a parte, tem gente bem e gente má independentementíssimo de seu cunho social. 


Essas digressões todas assim sobre "juízo de valor"? Por quê isso? Tá.


Um amigo meu me deixou engasgado com uma que eu passei. É São João, eu não sou menino pra ir por vontade própria pra um interior da Bahia qualquer e ter que passar perrengue na estrada, preferi ficar em Soterópolis. Poxa, mas tão legal a festa? Dane-se. Amo São João, mas precisava descansar. Fora que vi no Twitter de um bróder que ficou 7h numa viagem que não se levam 3. Não tô mais pra isso, gente. Tradição tem limite. Comi amendoim e tomei licor de Cachoeira em casa mesmo.


Estávamos num táxi, final de festa de São João no Pelô (falem o que quiser, eu ainda acho o SJP bom). Uma e pouca da manhã, tem 'ônibus' ainda, produção? Não? Procurar lugar pra dormir então. Os meninos que tavam comigo conhecem pouco a Cidade da Bahia, sugeri que fôssemos pro Dois de Julho, que pra quem não conhece, é o centro hoteleiro/'moteleiro' da cidade. Tenho a impressão que o Dois de Julho, apesar das dificuldades, é um trunfo dos baianos: o turista paga caro como a zorra por um quarto, o baiano quer dar uma escapadinha de final de festa (ou do que mais quiser, né?) e pá: não paga mais que 60 por um pernoite. Fora uma coisa que adoro: aquele ar delícia de interior quando você acorda de manhã.


Enquanto esse meu bróder não conhecia o Dois de julho (tenho a impressão que o mapa real de Salvador é 10 vezes mais do que o que ele conhece), eu já dormi lá pencas. Descemos pra Praça Municipal. Quanto é o Taxi? É tanto. Toca pro Dois de Julho. Seguindo pra lá, da Praça da Sé é bizarro. A gente pega uma Rua Chile bizarra e uma Avenida Sete bizarra de se andar, pois viva o TX. Naquele dia ainda tinha algum movimento. Eu bêbado, mais adolescente, já andei a pé horrores por ali, mas isso também fica pra outra postagem fora a parte. Da Avenida Sete, entrar no Dois de Julho, é um desvio estranho da avenida principal. Pra quem não conhece, pode até dar medo. Um gringo meio que se assusta. Pois é, esse meu amigo, baiano, numa piadinha sem graça, bancou o gringo paranóico.


"VOCÊ TÁ ME LEVANDO PRA ONDE???"


Isso tudo no meio a risos e brincadeiras, coisa de ninguém se importar. Mas sou de ascendente Câncer, já viu Câncer não se importar? Aquilo não me passou despercebido. Eu falei alguma coisa, tipo, pare fulano, pra quê isso, pererê, caixa de fósforo... Nem lembro direito o que eu falei. Mas sacomé, né: foi o tom dele. O comportamento que ele teve numa só frase, tão aparentemente inofensiva, mas tão cheia de discurso in a nutshell (viva a Análise do Discurso). Ele disse a frase rindo. Mas a boa e velha desculpa de que 'foi brincadeira' pra mim, não cola mais. Rafinha Bastos soltou sua misoginia em uma piada. Isso pra mim, não rola, não cola.


É como se ele tivesse levando pra um lugar 'estranho', 'sujo' (o lugar que, dali a alguns minutos, ele iria passar a noite), e que "pessoas como ele", não pudessem andar em locais assim. O Dois de Julho é consegue ser lindo, chic e humilde ao mesmo tempo. (Cadê o Dois de Julho no mapa do nosso turismo gente?) Detalhe. Ele não mora em um bairro nobre. Precisa comentar?


Não só isso: com essa frase, ele mostrou pro mundo que o mundo dele cabe na palma da mão dele. Sabe o que é isso na minha terra? Si-o-só, be-e-bé, Rê, be-a-bá: So-ber-ba.

Sabe de uma? Vamo brincar de trabalhar a humildade gente? Acho que o pensamento colonizado (deixa isso pra outro post também) toma muito conta de nós jovens - sim, me incluo nessa. De que vale o cabelo liso, se as idéias são enroladas dentro da cabeça? A favela não é o paraíso, muito menos os condomínios da Graça, então, qual é o ponto? Acho que vale lembrar que, no final das contas, ninguém é melhor que ninguém que é melhor que ninguém. É realmente importante o conceito de 'classe', de "eu sou pheena e ryca" que, como um assombro, tomou conta de nós gays hoje em dia? E não há como relativizar. O que torna uma pessoa de nível 'deprimente', e que a separa de uma pessoa de valor, como disse no início do post, é a falta de vontade de mudar.



Pois é. Achei sim, soberba da pura, destilada, caindo em gotas nos meus ouvidos. Ele que depois fique à vontade pra me provar que isso não é soberba das más. Sei que talvez eu esteja levando isso tudo muito a sério. Sério. Mas soberba não. Não com meus amigos, não no meu mundo. Não quero espaço pra isso. Quero vontade de mudar, quero ver esse aión, esse sistema de coisas se transformando tão rápido que eu não tenha tempo nem de acompanhar.


Sei que, se for tirar uma média, meus alunos VIP que moram "muito bem, obrigado", aprendem tão bem quanto os meus alunos do subúrbio. E tenho dito.

2 comentários:

  1. ahahhaah
    é uma pena o que as pessoas fazem pra não aproveitar a vida.

    saudade Allan

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  2. Precisei afastar o notebook do colo, para aplaudir!
    Orgulho de ter como amigo, essa pessoa politizada, critica, excelente profissional, e humano lindo que é.
    Você é rycaaaaaa de espirito e sabedoria meu bem!
    beijos

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