Estranho me sentir na Bahia - como se conhece, como eu me sinto - na minha rua.
Na verdade, não me sinto mais na minha rua há muito tempo. Tudo cresceu, tudo mudou muito, se fechou mais ainda. As pessoas perguntam onde eu moro, eu digo que eu durmo minha cabeça num travesseiro na minha casa. Afinal, é mais tempo na rua que qualquer outro lugar.
Eu não sinto mais minha rua, mas ao mesmo tempo sinto falta dela. Sinto falta, por exemplo, não de quando ela não era asfaltada - em tempo de chuva, a gente via rato rolando - mas do tempo que eu senti e vivi quando ela ainda era de terra.
Saudade do tempo em que a gente brincava, que ninguém tinha filho (é, alguns amigos adolesceram com filhos), do tempo em que a gente dormia pensando no que vai brincar amanhã. Do tempo em que todo mundo se gabava que aqui era tranquilo, e que não precisávamos ver placas com 'Segurança Motorizada' nas casas. Do tempo em que terreno baldio era esconderijo e que as casas eram uma sim outra não; não tinha tanta parede-meia como é hoje. Do tempo em que tráfico de drogas era coisa de longe, de lugar grande como São Paulo, Rio de Janeiro, e só tinha na televisão.
Outro dia desse fui comprar uma lata de creme de leite na venda de Gonzaga. Na volta, carregando o saco de plástico na mão, de repente ouço uma casa vizinha - não sei quem são mais meus vizinhos - tocando Jau no rádio, a música, uma das minhas preferidas, Reconvexo. A casa da outra vizinha da frente exalando uma moqueca. O cheiro do dendê e a música de Jau. De repente, um vento no rosto, uma brisa gostosa, e eu voltando pra casa, pra trazer o creme de leite.
Painho na frente, lavando carro. Mainha fazendo comida. De repente, tudo fica tão bom, tão casa.
Sensações que não se explicam, mas passam uma noção de casa, de lar, de Bahia, de onde eu moro, de que tudo, mesmo tendo um fim, tem um começo. Começo que é, talvez, pra onde a gente sempre volta.
muito profundo rsrsrsrs!!!!
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