Em construção. Praticamente um canteiro de obras.

Fim de Ano

O sol entra na minha casa 7. Acho interessante. Me sinto mais bem humorado, mais disposto; a casa sete sempre traz uma coisa boa, uma energia legal.

Astrologia à parte, isso não impede uma coisa. A maluquice que é fim de ano, fim de festa. Sabe quando, por melhor que seja o show, quando você percebe que o show vai acabar? Tocam-se as músicas mais conhecidas, mais agitadas, pra daqui a pouco o cantor chegar e dizer tchau, bye, yo te amo brasil... essas coisas. E você fica lá, foi lindo, divino, maravilhoso. Mas hora de voltar pra casa.

Num tempo danado de correria, vem você e se pergunta. Que casa? Onde é que eu tô. O seu lado mais melodramático vem à tona nos finais de ano. Maria do Bairro ficaria no chinelo. É uma sensação de dever não cumprido, de coisas a fazer que você não fez, de quem você poderia ter pego e não pegou, do concurso que você não passou, do emprego que você perdeu (e poderia estar pagando sua festa de final de ano num lugar melhor, né?), da vida que está passando, você ficando mais velho e... e é bem por aí.

Pra mim essa angústia só é potencializada quando você pisa o pé fora de casa. É um negócio de você ter que comprar presente... Mas presentear o quê mesmo? O fracasso que foi o ano todo? O vazio que você não completou durante um ano, e agora você merece um presente? Pessimismo à parte (sim, meu bem, final de ano é tempo de 'renovassaum', leia-se um pessimismo da zorra), é mais ou menos assim que funciona.

As pessoas simplesmente esquecem que um ciclo não é só um ano. Tudo bem que é o ciclo mais importante (pelo menos aparentemente), onde as coisas seculares começam e terminam. O mundo do lado de cá funciona de Janeiro a Dezembro. Tá. Mas e o ciclo interior? E o ciclo da sua vida? O eterno ir e vir, terminar e começar? Sim, sim!!! Ele é tão importante quanto o ano civil. A gente não presta atenção nos nossos ciclos. Nas nossas coisas que começam, terminam e recomeçam. Terminou um namoro? Veja quanto tempo demorou pra engatar outro. É um ciclo. Enquanto isso, vá pensando no que aprendeu: é um ciclo terminando em sua vida, aos poucos. Não importa se é de doze meses ou 3 segundos. Morreu um amigo, um ente querido? Veja em quanto tempo a dor leva pra passar. É o seu ciclo natural. Não tem nada a ver com o ano lá fora. Perdeu um emprego? Que pena. Bote currículo e veja quanto tempo leva até você arrumar outro. É o seu ciclo de adaptação até ter outra fonte de renda.

Eu não sei. Pra mim tempo é bem relativo. Meu ciclo é meu ciclo. Aliás, meus ciclos naturais. Dane-se esse que inventaram.

Sim, e Feliz Natal e Ano Novo pra quem leu.

Postagens Astrais


Meses de signos fixos (Maio, Agosto, e, pela teoria seguirão Novembro e Fevereiro) parece que dão mais trabalho pra postar. Acho que por representarem casas astrais longas, onde as coisas estão consolidando, fico mais renitente pra ir pro blog e escrever.


Pra quem não entende de astrologia, não entendeu bulhufas. Explicando: os meses supracitados são períodos em que meu ascendente (Câncer) passa por um processo mais lento, onde as coisas se consolidam. Sim, eu acredito em Astrologia. Na verdade, não sou do tipo que troca a roupa azul depois de ouvir no horóscopo da rádio que a cor da sorte é o rosa-grená-pálido e corre pro guarda-roupa pra procurar até achar alguma peça de roupa com a bendita cor. Só acho que uma arte de dezenas de milênios simplesmente não dá pra ser desprezada. Sou fascinado desde menino por essa coisa de Astrologia, tudo se encaixa muito forte, especialmente no campo da personalidade.

Sou Peixes, ascendente em Câncer, lua em Virgem. Tudo muito bem sincronizado. Dizem as boas línguas que sou pisciano torto: me dou bem com gente de tudo que é signo. Mas, Zodíaco a parte, acho que sou um emaranhado de coisas que às vezes dá trabalho pra entender. Enfim. Me dou o benefício da dúvida, pra continuar no processo de construção do "quem sou eu". E pouca coisa é tão produtiva quanto astrologia pro autoconhecimento.

Sensações

Estranho me sentir na Bahia - como se conhece, como eu me sinto - na minha rua.
Na verdade, não me sinto mais na minha rua há muito tempo. Tudo cresceu, tudo mudou muito, se fechou mais ainda. As pessoas perguntam onde eu moro, eu digo que eu durmo minha cabeça num travesseiro na minha casa. Afinal, é mais tempo na rua que qualquer outro lugar.

Eu não sinto mais minha rua, mas ao mesmo tempo sinto falta dela. Sinto falta, por exemplo, não de quando ela não era asfaltada - em tempo de chuva, a gente via rato rolando - mas do tempo que eu senti e vivi quando ela ainda era de terra.

Saudade do tempo em que a gente brincava, que ninguém tinha filho (é, alguns amigos adolesceram com filhos), do tempo em que a gente dormia pensando no que vai brincar amanhã. Do tempo em que todo mundo se gabava que aqui era tranquilo, e que não precisávamos ver placas com 'Segurança Motorizada' nas casas. Do tempo em que terreno baldio era esconderijo e que as casas eram uma sim outra não; não tinha tanta parede-meia como é hoje. Do tempo em que tráfico de drogas era coisa de longe, de lugar grande como São Paulo, Rio de Janeiro, e só tinha na televisão.

Outro dia desse fui comprar uma lata de creme de leite na venda de Gonzaga. Na volta, carregando o saco de plástico na mão, de repente ouço uma casa vizinha - não sei quem são mais meus vizinhos - tocando Jau no rádio, a música, uma das minhas preferidas, Reconvexo. A casa da outra vizinha da frente exalando uma moqueca. O cheiro do dendê e a música de Jau. De repente, um vento no rosto, uma brisa gostosa, e eu voltando pra casa, pra trazer o creme de leite.

Painho na frente, lavando carro. Mainha fazendo comida. De repente, tudo fica tão bom, tão casa.

Sensações que não se explicam, mas passam uma noção de casa, de lar, de Bahia, de onde eu moro, de que tudo, mesmo tendo um fim, tem um começo. Começo que é, talvez, pra onde a gente sempre volta.

Isso Não É Amor

Embora eu tente, não entendo de verdade seu comportamento.

Embora goste de você, com certeza não da mesma forma como você me ama - ou ao menos insiste em publicar nas suas redes sociais que assim o faz - você consegue dar um jeito de me perder. Sim, por que da forma como você se comporta comigo, é o máximo que você consegue, me confundir.

Me confundir por que, sinto que seu amor pueril ainda me sufoca. Preciso de mais fôlego.

O amor é, de longe, o mais metamorfoseado dos sentimentos. Ele não se conserva com muita facilidade, em tudo o amor se transforma, o amor é maleável demais: de amor pra se virar outro sentimento, é daqui pra ali. Pra o amor virar essas coisas de 'paixão', 'obsessão', é um pulo.

É mais ou menos isso que eu vejo que acontece contigo. Você me ama, mas pura e simplesmente por isso, já acha que me tem. Amor não é posse. Você me liga todos os dias: não confunda, amor não é obsessão. Você sutilmente me faz cobranças, mas lembre-se: amor não é chantagem.

Amor, pra mim, é liberdade. Grave bem essa palavra: LIBERDADE. Não é liberdade de amar outras pessoas, não é libertinagem, é liberdade de te ver, de sentir seu carinho, seu ombro amigo, e sem você me cobrar, você poder ouvir o meu 'eu te amo'. E eu, com doçura, poder ver, sentir e ouvir o seu amor.

Você ainda é jovem, sente pela pele, e não consegue fazer a distinção entre o fogo da paixão e a brisa calma do amor. Eu, tão cedo, não posso abrir minha boca e te dizer, eu te amo. Não. Eu ainda não te amo. Mas tenho a certeza que nutro, régo e côlho um carinho enorme, que não demoraria a virar amor. Mas não regue demais a planta do amor: ela pode ficar bêbada de água, e não vingar.

Eu quero você pra mim, mas vá me tendo com calma. Não se apresse. Não se precipite. O amor é belo, e ainda temos a vida toda pra vivê-lo. Vá com calma e me conquiste.

Você tem pureza e malícia de alma suficiente pra isso.

Pensamentos Randômicos

Não se nasce feliz, nem se vive feliz: torna-se feliz. A felicidade é um momento, cuidar pra não ser passageiro, uma planta de flores frágeis. que deve ser cultivada com muito zelo pela sua grande facilidade de murchar e morrer.

Ela não cai do céu, é necessário ir procurar onde essa semente nasce, colhê-la, cultivá-la, e todos os dias acordar cedo pra regá-la, numa árdua tarefa. É uma planta extremamente exigente, que cansa, que não dá paciência pra cuidar, por isso, exige treino. Mas, em compensação, os frutos tem um sabor incrível, que recompensa a longa tarefa.

Tenho dificuldade com gente mesquinha, que se defende de tudo que a gente fala, que se irrita fácil, que estão sempre na defensiva. Preciso sempre dos corações abertos ao riso, a suavidade.

Tenho uma sede intensa de conhecimento. Sou dono de uma reatividade/relatividade pisciana inata, tendo a ser com você, como você é comigo.

Admiro o intenso, e tenho certeza que vivo com prazer o tempo em que estou. Só não consigo compactuar com o trivial, aquela insanidade tão 'lugar-comum', o culto ao efêmero, a política de 'viver até o último segundo', como se planos, sonhos e visão futura fossem coisas proibidas. Cegamos nosso poder de planejar em nome de uma filosofia inócua, a do 'sem-compromisso'. Onde fica o depois? Por que as consequências, meus caros, elas só vêm depois.

Podemos morrer amanhã, mas o amanhã também pode ser o melhor tempo de nossas vidas.

Faça Login, Senhora Monção!

Entre os meus amigos, há uma figura a quem eu tenho o prazer de tietar, assumidíssimo.
Afra é uma amiga minha que já foi muito porra-louca na vida. Ainda é, só que mas com mais pachorra e cuidado.

É depois de sair da casa de Afra que eu saio animadamente contagiado por aquela visão ácido-corrosiva que ela tem. Afra acredita no mundo, só que ela simplesmente não se estressa, por isso aquele sarcasmo tão magnético. A Lua dela em Aquário foi mais forte que o Sol: questões universais a preocupam, mas o bom humor dela fala mais alto.

Toda vez que vejo Afra me dou conta de que tem coisa mais importante do que aquilo que eu acho importante. É um revezamento de padrão das coisas natural. Ela me dá toques, só por falar, de Daniela Mercury à galerias de museus, de relacionamentos à editais, do que mais e do que menos for cultural, a gente conversa. E assim flui até o dia amanhecer.

Volto pra casa. À noite, fui dar uma olhada na televisão, não necessariamente pra me sentir mais inteligente, acho que pra digerir melhor a janta. Mudei da novela (a tevê tem vários canais, mas na prática, só tem um canal, que vocês já sabem) pra o canal dito Cultura, em rede nacional. Me deparo com um programa chamado Login, cuja estranha vinheta de abertura são as silhuetas de uns jovens em um LED, coisa mais kitsch e tecnocrática impossível. Login, internet e LED é tudo faz tudo parte das mesmas 'modernidade'. Tenso.

O programa era ao vivo. Muito tenso. Um casal - beijo, sexismo! - jovem, branco, assume o comando. Embaixo dos nomes deles, o @algumacoisa, tipo, acesse-meu-twitter-sem-precisar-muito-saber-quem-sou-eu. Coleção de followers?

O casal, no estilo mais show de calouros impossível, parece não ter a menor noção de como comandar o programa, que era do estilo 'novidades pra gente jovem burra'. Daqui a pouco vamos falar de 'flash mob', anunciava o bonitinho. Flash Mob? Minha gente, tudo bem que nem todo mundo conhece o tal do Flash Mob, mas caramba... Só faltou ele falar da novidade chamada 'Orkut', ou do último lançamento do cinema: Titanic. Me poupe.

Os dois sempre em tom amador/debochado, como se não lembrassem que ganham pra fazer aquilo. Se ganham pouco, se não tão satisfeitos, se estão na geladeira da Glóbulos - o brother que apresentava era ator global, tenho certeza - se danem. Eu, telispéctadô, não tenho pê-ene a ver com isso. Daqui a pouco, ói o bonitinho chamando um outro cara, em tom de show de calouros [2].

Super tenso.

O outro cara, rei... Brother, o outro cara tava cochilando.
Velho, o cara apresenta um programa, e tava cochilando! Rei... Co-chi-lan-do!!! Alguém avisa!
Me faça uma garapa. Pago pra dormir em serviço. E ao vivo.

Meu estômago já em colapso. E eu que tinha ligado a TV na intenção de fazer uma digestão melhor...

A piveta começou a mostrar uns 'links interessantes'. A internet vive me bombardeando com 'links interessantes', e eu preciso ligar a TV pra ter 'links interessantes'. Interessante... Vamos aos links: Fotos de comidas decoradas. Maçãs em formato de borboleta e de laranja suicida. Depois, um site de fotos de bentôs (marmita japonesa) decorados. "E olha, quando você passa o mouse, ele te mostra os ingredientes...". Interessantíssimo. Depois dessa, vendo minha cama, pois não vou conseguir mais dormir.

Eu preciso de gente como Afra na televisão.

Emoções de Blog (ou, Post Todo Falando de Mainha)

Eu sempre escrevo as postagens primeiro no bom e velho bloco de notas pra depois passar pro blog. Mania, hábito, sestro, sei lá o que é. Não sei, só sei que faço assim.

Enquanto postava o post anterior (postava o post soa redundante, né?), tive uma briga homérica com mainha. Detalhe: Vão se acostumando, por que eu chamo mainha e painho, nada mais baiano (engraçado é ver meu irmão grandão chamando 'ma-i-nhááá...', com melodia baiana). Coisa nossa.

Sim, tive uma briga da zorra. Rapaz, ela vem procurar minha carteira de trabalho nas minhas coisas, e começa a xingá-las. Xingar, pra quê tanto papel, bagaceira... essas coisas. Mas sabe, aquele tom pejorativo. Velho, ela não consegue controlar a pejoratividade que ela lança nas coisas: minha mãe é assim, se ela quiser derrubar alguém, faz isso com perfeição, né só a mim não. Precisa ver minha tia, a irmã dela. Deixa qualquer um no chinelo. Chééépo!

Caramba, parece que eu briguei por pouca coisa. Deve ter sido, mesmo. No final, minhas brigas com mainha sempre são por pouca coisa. É que mainha, quando quer, ela é triste. Ela, consegue, com maestria, esculhambar. Começou a pegar os papeis, detonando-os um por um. E eu não consigo muito controle. Detonei ela legal. E ela a mim. Um belíssimo zero a zero. Pior, saldo negativo. Eu com mágoa, ela com mágoa ao quadrado.

E eu também sei que eu guardo papel como a disgrama, mas ela é profunda. Eu sei, mães são profundas. É que a convivência é uma miséria, a gente acaba botando tudo pra fora numa discussão besta. Mainha sempre foi controladora como quê, tira isso daí, ajeita esse cabelo, que sapato horroroso, você vai assim com essa blusa, tá parecendo mendigo, comigo não anda assim, isso tá triste, pescoço fino da zorra, deus é mais. Sabe, cresci assim, mainha sem um pingo de autocrítica. Eu tenho lá meus problemas por conta disso, - beijo, Freud! - deve ser. Mas ela, pra detonar os outros, é um estalo de dedos, defeitão. 'Detonar' que eu digo não que ela seja uma fuxiqueira, uxe, longe disso. Ela é super franca. Até demais. Se for pra falar, ela não perdoa.

Agora vá qualquer cidadão da face da terra dizer que ela é isso ou aquilo. Rapaz, ela se ofende. Ela leva aquilo a sério, pro pessoal. De verdade. Já viu coisa pior que alguém que se ofende com qualquer coisa? Eu tenho dificuldade com esses melindres. 

É engraçado que, quando a gente briga, eu digo que eu vou ser um pai maravilhoso, coisa e tal. Que eu vou, eu vou. Pelo menos vou tentar. Mas não tá vendo que é só enxame meu pra tirar onda com a cara dela, mesmo que indiretamente? Aonde que eu e meu filho - sim, eu terei um filho! - vamos ser essa maravilha toda. Até parece.

Mas sabe, eu só queria mesmo que mainha chegasse, de boa, conversasse, desculpa, olha, você também foi errado, pra quê isso comigo? Não. Ela NUNCA - sim, meus amores, nunca com Caps Lock - me pediu desculpa, nem a mim, nem a ninguém. Eu já pedi várias. Mainha tem um histórico de amarguras extenso demais pra pedir uma coisa tão boba e tão especial como 'desculpas'.

Eu a amo. Ela é difícil. E eu vim de dentro dela né? Filho de difícil, dificinho é.

(Tá bom, esse post compensa o do mês das mães que faltou...)

Esse Estranho Amor

Eu não sou muito de estar falando de coisas românticas, mas tudo isso não deixa de ser estranho. Amor não existe, afirmam alguns, amor existe sim e é lindo, amor é um jogo. Eu fico com essa última opção.

Por que isso? Lembro que, num dos meus momentos reflexivo-psicológos, soltei que a diferença do amor e a amizade é justamente o poder, - beijo, Foucault! - pois enquanto a amizade é honesta, limpa, clara; o amor não. Envolve com o sentimento do outro a questão dos interesses pessoais. 'Interesses pessoais' soa tão politiquês... Mas é a verdade. Pelo menos é a minha verdade, a verdade pelo qual passei.

Já tomei foras ('piaus', na linguagem papa-jaca universitária), já dei foras, já amei sem ser amado, já fui amado sem amar... tudo poder. Amor é um negócio de medir forças que é uma miséria. Amor, amor, estranho amor.

Por isso hoje, eu tento me proteger dessa praga. Eu tenho - momento acknowledgement - medo de amar. Medo enorme, é um horror. Me coço só de pensar. Mas fazer o quê? É muito sofrimento minha gente, é um negócio estranho, que deixa você um bipolar da noite pro dia. Tenso.

Precisava discorrer essa verborreia (ah, é, agora tudo que é porra que termina com 'éia' é sem acento, né?), o pensar em amor me faz escrever. Só o fato de pensar nisso, já deu pra sacar que eu tô em maus lençóis com o Cupido. Não, não estou amando. Eu penso demais pra amar. Hoje, pra amar, primeiro eu penso. Nem que eu me lenhe. Mas eu penso, fico pendurado. Até tomar uma decisão.

Beijo pra quem é racional e não precisa rabiscar nada em blog pra tomar decisões simples.

Mutatis Mutandis

Um mês sem postar no blog é tempo como a zorra. Eu admito, não dei sequer satisfação. Minha culpa, minha máxima culpa. Mudei o blog de endereço e nem avisei nada, coisa e tal.

Calma. Aconteceram muitas coisas.

O Sozinho Morando nasceu a partir da partida da minha mãe. Meus pais se separaram - graças a Deus - e minha mãe resolveu dar uma guinada na vida dela, se mudando (meu pai não sai daqui de perto nem a pau). Dei o maior apoio, era a minha independência e a dela. E assim, passei a morar só. Simples assim.

As primeiras semanas foram, de um certo modo, complicadas. Mas nada que eu não pudesse tirar de letra, eu literalmente me redescobri morando sozinho. Foi uma experiência interior muito intensa. Mas foi. Já acabou. Não demorou nada, minha mãe volta: não deu certo lá. Ai ai... É a vida desse meu lugar.

Graças a Deus eu e ela somos, apesar do abismo de diferenças, grandes amigos. Nos damos bem, eu a amo, é recíproco - ao nosso modo - e ela voltar foi até bom pra mim. Pro blog, não. Ficou aquele vazio, aquela falta de experiência interior, de vivência, de fluxo pra escrever. Tanto que passei esse último mês de maio todo, todo (não sei como) sem sequer visitar o blog. Mas não dava pra escrever. Minha vida tinha voltado a ser o que era, confortável, mas sem maiores redescobertas, sem mais o que escrever, diga-se de passagem.

Mas tô de volta, e se derrubar é pênalti. Não posso ficar sem escrever, sou um write-a-holic por natureza, sendo assim, o blog tem que continuar. Vou seguir os conselhos de Elias, diversificá-lo mais, unir uma coisa com a outra, colocar mais figura, essas coisas de blog.

Deixe só eu arranjar um tempo aê... (arranjar tempo, rai ai...)

Feijão de Casa Nova

Amigos, sempre eles.

Resolvi - a essa altura do campeonato, dane-se se é tarde, nunca é tarde pra uma festa boa - dar um Feijão pra comemorar a minha casa nova. Nada mais baiano: com direito a violão, vinho, muita cerveja, e muitas risadas. Tudo muito sadio, próprio do meu povo que anda comigo.

Meus amigos TODOS vieram. Eu falo de amigos. Os que não vieram tão mais pra colegas, mesmo. Mas quem eu chamei e pôde vir, fez um esforcinho, e veio. Me senti cheio de lisonja. Como ia trabalhar, deixei a casa com dois amigos. Um, ficou desde ontem, de vigília praticamente. A outra veio de manhã cedo. 'Cuidem da minha casinha', era a minha palavra de ordem. Pois cuidaram.

Cheguei cedo do trabalho, liberou mais cedo que pensava, glória a Deus. Ô... nem queria!

Meu Deus, que bom: definitivamente, eu tenho amigos. Eles dois deixaram minha casa não só um brinco, como a redecoraram, colocaram tudo em ordem, coisa mais linda. E ainda com o aroma de feijão no ar, no ponto, gostoso como casa nova. Os danados me receberam, a casa como se fosse deles, o que me fez rir bastante.

Foram vindo aos poucos. E foi violão, esquete de teatro, piadinha, música, risos, beijos, cheiros e fotos, até o cair da noite, até o levar no ponto de ônibus e ensinar qual o que se deve pegar. Lisonja, carinho, muito riso e satisfação. Aliás, rir foi o que mais fiz. Alegria que perdura até hoje, dois dias depois. Assim como até hoje, perdura alguma louça suja na pia. Resquícios de festa boa e aconchegante.

Nunca lavei panela de gordura com tanta satisfação. 

Uma Coisa Puxa a Outra

Definitivamente meu estado de espírito está calmo. Me sinto meio desatento, na hora que chego, quero fechar a porta, o cadeado na minha mão, e eu o procurando... Essas coisas. Não me sinto potencialmente mais ativo como o outro, pelo contrário, me sinto mais calmo, mais tranquilo, embora o coração continue bombeando nervoso como antes.
Pra falar a verdade, tô até mais concentrado, mas sinto que meu cérebro têm dificuldade pra pensar em mais de uma coisa. Dá mais foco. Pensei que eu ia fugir de foco, mas não, foi o contrário. Só que também sinto uma lentidão parecida com o sono, mas não lerdeza do sono. Uma calma, mas sei que é difícil pensar em mais de duas coisas ao mesmo tempo, coisa que minha mente SEMPRE está.

Sinto que funciona um bom motor. Não necessariamente um bom veículo. Não como algo que leva à uma viagem, mas algo que potencializa sua viagem intra/interpessoal.  É bom, por exemplo, pra melhorar um prazer que você já esteja sentindo no momento, não que vá criar um novo prazer. Estar com uma pessoa, fazendo carinho, aquele que a gente gosta, ilustra bem um a siuação que pode ser melhorada com a ajuda desse motor. Tá mais pra um acessório que pra uma roupa, necessariamente.

Me sinto menos hesitante. Teria como conversar assuntos um tanto delicados, sem rodeios. É estranho. Penso menos. Eu geralmente penso muito antes de tudo. Me sinto querendo deixar mais as coisas fluirem. Sinto essa dictomia exibição/inibição em picos (ora quero me exibir, ora me inibir, ora me preocupo com o leitor, ora me abstenho dele), proporcional à minha fluidez do texto.


Enchente de Início de Outono (ou Flood-eiragem)


"Chuvinha besta", pensei.

Foi exatamente o que pensei quando dormia, ontem Preguiça total de fazer meus trabalhos da faculdade. De acordar pra vida. Fui dormir de novo, a chuvinha ajudou - poxa, nada melhor que uma chuva na hora de redormir.

Chuvinha besta? É mesmo?

Tá bom, demorou nada, tá minha casa molhando. Olhe que pra molhar minha casa tem que ser muito vento, tem um vão enorme aqui que dá na minha porta, pra iluminar e ventilar minha casa. E por onde entra chuva, nos rainy days.

Rapaz, muito vento. Vi as árvores do quintal quase na horizontal. Rá-paaaaz!!! Bizarro. Iansã tava nervosa.

Me lembrei, do nada, de meu pai, que mora em baixo. Preocupação, né? Tô vendo ele, com os baldes, desesperado. 20 cm de água dentro de casa.

Começamos a operação tirar-água. O vizinho ajudou (até filmou, sacanagem, achei graça depois), tiramos água até não poder mais. Desespero. Limpamos, passamos pano, arrumamos a casa... Essas coisas todas super-básicas de enchente.

Os ventos, realmente os mais fortes que já vi em toda minha vida, arrancaram os toldos das barracas da praça do meu bairro. Outdoors no chão. Árvores arrancadas. Casas destelhadas. Raios. Pânico.

Pois é.
De repente, uma formatação.
De repente, uma enchente.
Daqui a pouco, de repente, encontro na minha porta um cesto com uma criança dentro pra eu criar.

E você aí, ainda quer morar só?

Psicopata-somático

Quando a gente mora só, fica bem mais evidente o reflexo das coisas na gente. Como a personalidade da gente reflete nas coisas. Minha casa tá uma bagunça, uma mess, uma carniça, precisa ver. Aliás, não precisa ver não. Tá de fazer vergonha.

Do mesmo jeito que tem o psicossomático, descobri que tem o doméstico-somático. Meu corpo, minhas emoções, ficam todas refletidas na casa. Uma zona: é por que eu não tô bem. Não, não... Nada de depressão não, porra nenhuma. É só uns probleminhas aí que a gente não conta nem pro blog.

Acho que voltei à fase lerda do início.

Tenho que tomar cuidado com esse vai-e-vem.

Reflexões Acerca d'Um Pen-Drive

Aprendamos.
Aprendamos a recomeçar. Isso mesmo. A recomeçar.

Tenho uma característica - que fui com certeza adquirindo com o tempo - que é aprender (ou ao menos tentar aprender) com pequenas coisas, coisas que parecem ínfimas.

Formatei meu PC. Ficou lindo, leve, solto, quase flutuando. A memória, uns setenta a oitenta por cento cheia, hoje não chega a dez. Meu vizinho, técnico em computação - se boa cerca faz o bom vizinho, viva também a política da boa vizinhança - me ajudou e formatou meu PC. Como de praxe, afinal já foram algumas formatações, guardo tudo num pen-drive e mando bala. Depois, é só descarregar tudo de volta. Dessa vez, como foi muito próxima da última formatação, nem teve tanta coisa assim pra guardar. Tá.

Na hora que ele começou a formatar, ele não viu que meu pen-drive tava no PC.

- Você tirou o pen-drive?
- Não.
- Menino, cê é doido é?... Mas acho que não formatou nada no seu pen-drive não. Só formatou o disco rígido mesmo.

Rapaz...Desgraça pouca é bobagem.
Demora alguns dias depois da formatação (hoje), coloco o pen-drive.

O disco ainda não está formatado. Deseja formatá-lo agora?
(sim) (não)

Hã? Como assim?

*tenso*

Liguei uma coisa com a outra...
ÊÊÊ-TÁ POOOORRA!!!

Perdi tudo no pen-drive. Tudo. TU-DO.
Tá, mas como uma perda de dados besta de um pen-drive merece uma postagem no blog? Que infantilidade!

Não, não é. Perdi tudo. Quando me refiro a tudo, é tudo. Arquivos que levaram anos pra juntar, fotos, documentos importantes, pesquisas, favoritos salvos... e as fontes... Ah, as fontes! Minhas fontes, que tanto me gabava de tê-las, várias fontes caras, que conseguia de graça, nas minhas maluquices com o Google. Fora os projetos, rascunhos inteiros de projetos, catálogos de pós-graduação, informações importantes, dicas de ganhar dinheiro, minhas coisas, minhas coisinhas, meu mundinho. Uma parte de mim, foi, pá. Numa formatação.

E aí tive pensando. Como tanta coisa importante - por que era importante - foi tudo num mísero pen-drive? Uma coisa que podia perder, e pam, já era? Como pude atribuir tanta coisa importante a isso? Como um objeto bobo se tornou algo tão prioritário? Como a tecnologia nos escravizou a tal ponto, de uma parte da minha vida ficar num presa a um pen-drive?

É nisso que eu procuro aprender. Aprender a recomeçar, sempre. Aprender a não dar valor a um pen-drive. Aprender o desapego (difícil). Aprender que é necessário, formatar as coisas fúteis, a deletar o que não presta, a apagar o que realmente não é importante. Hoje, tenho certeza que não vou usar setenta por cento do que tá lá. Mas precisei dessa formatada da vida.

Por que a vida é assim. De repente você tem que estar preparado pra ser formatado por dentro.



Baratas, baratas...

Me sinto circundado por elas. Elas existem em todos os cantos da casa. Elas tomam conta da casa. A casa é delas. Eu que a invadi.

E você achando que elas não faziam zuada? Que zuada, barulhinho chato é coisa de grilo, cri-cri-cri? Pois fazem, meu 'abor', silêncio é coisa de barata antiga, as de hoje, emancipadas, são baratas vanguardistas, gritam pelo que lhes dá na telha. Como assim? Inventei de colocar uma caixa de papelão - perto do banheiro, ó que miséria - pra colocar o lixo que acumula e jogá-lo fora depois. Repare só.

Fui dormir hoje, não me preocupei em forrar o colchão, ah, quem se importa? Achei que pegaria no sono logo, e de fato estava. Ledo engano. Ledíssimo engano. Acordei com um calor insuportável, uma vontade horrível de mijar. Enfim, quebrei - droga! - o ciclo de dormir cedo/acordar cedo, tava bom demais pra ser verdade.

Uma zuadinha, tá-tá-tá-tá-tá... de umas 250 bpm. Porra, bem atrás da caixa.

Ok, vamo localizar: eu durmo na sala - não há quem guente o calor do quarto. A caixa fica próximo ao banheiro. Um corredor separa a sala (é uma porta em cada corredor, esquerda, meu quarto, direita quarto de mainha) da cozinha. Na cozinha, duas portas à direita, uma da área de serviço e a outra, do banheiro. A caixa tá bem no corredor, perto à duas paredes, quase na cozinha - próximo ao banheiro.

De volta a zuadinha fdp, tá-tá-tá-tá-tá... Rapaz, eu achando que era o rato - não, não é um rato qualquer. É o rato, esse mickey-mouse do demônio, um rato que merece uma postagem à parte no blog, mais tarde - mas não. Era uma barata. Como a caixa tá perto de duas paredes, numa quina, a baratinha maldita raciocinou que ali é antes de tudo um lugar perfeito pra uma barata colocar com segurança seus ovinhos e reproduzir com tranquilidade - jogando minha paz pro espaço.

Como a conclusão que era uma barata? Achei uma vassoura do lado. Bati na caixa. Subiu na parede (meio que coberto pela aba da caixa) uma silhueta de algo aterrorizador, próximo a uma barata. A mensagem que tentei transmitir: vá embora. Ela não vai. Não era mais fácil matar? Ahn... não. Entendam: eu tenho medo, prontofalei. Mas assim, vou lá e mato. Por que não matei? Simples (é simples mesmo?), teria que tirar a caixa pra matá-la. Pela zuadinha, ela tá no cio, chamando a parceira lá (baratas lésbicas?) pra nhanhar, eca. Eu já tenho medo de uma, piorou de duas. Pela zuada, certamente ela não tá só. Matar barata sozinho é complicado. Ô gente, entendam, vá...

Ligo o computador. Perdi o sono mesmo... Do lado do PC, tcha-ram! Uma barata. Pensei que ia cair pra trás da cadeira. Pedi pra ela sair. Ô meu Deus, né que ela saiu? (e se essa postagem tá aqui, agradeça à boa-vontade dessa barata, senão...) Tá atrás do PC agora. Como minhas pernas ficam cobertas visualmente pelo suporte do teclado, qualquer coisa que cutuca minha perna - geralmente muriçoca - eu pulo, pensando que é barata.

Desde criança o medo, o pavor de barata. Por quê, por quê? Não sei. Tenho e pronto. Vou lá e mato. Mato? Aham... depende da circunstância... e essa não é uma delas. Tem uma caixa na frente da barata. No meu mundo irracional, no meu subconsciente (quem também tem medo vai entender direitinho do que eu tô falando) é eu tirar a caixa e ela pula em cima de mim, e aí eu morro.

Ô, gente... O medo. Medo merece um capítulo à parte na vida da gente. Sou todo medroso, mas vira e mexe, enfrento meus medos. Mas morando sozinho, o medo cresce, toma proporções gigantescas. O medo simplesmente não some, não tem ninguém pra tapear o medo, não tem nada mais urgente pra você fazer do que sentir o medo, do que ver o medo em todos os seus poros. Sério. Tem os pro's e os con's de morar só, esse é um dos con's, sem dúvida.

O pior é ouvir as zuadinhas daqui da sala da barata, lá, feliz da vida na caixa, com sua parceira lésbica lá. Sem saber, construí um motel pra baratas. Amanhã mesmo queimo esse hotel. Não jogo nem fora. Queimo logo.

O ruim é que amanhã vai demorar de chegar.

Começando a Caminhar com as Próprias Pernas...

O blog já nasce com uma semana de atraso. Fiquei assim, renitente, tipo ah, pra que porra um blog... mas fiz. Hoje, com o episódio das baratas - que ainda está acontecendo, quem sabe faz ao vivo - deu pano pra manga suficiente pra uma boa postagem, que vou rir depois.

Vem acontecendo muita coisa, internamente, no meu mundo interior. Saio bem menos, quero cuidar da casa. Curtir a casa, cada cantinho, cada coisa em seu lugar, no meu lugar. Minha casa, uuu, eu quero você como eu quero.

Fiz uma listagem de tudo que tenho a fazer. E vai demorar pra ser cumprida. É muita coisa. Cada dia me dou conta de uma coisa nova, de uma casa nova. Me vi doido na primeira semana. Agora, separei as tarefas por cômodo. A priori, a cozinha, sempre a cozinha. A pia, gente, a pia é autosustentável, parece a Caverna do Dragão, é sem fim; endless, möbius. Cabou de limpar, ó ela suja, rapaz... Os quartos, ainda não arrumei. A sala, dei uma geral básica. Beeeem básica. Faltam livros, papéis, poeira, tanta coisa...

A tevê, eu não ligo. Mesmo. Assisti um filme, um dia só. Lindo, por sinal, Becoming Jane (pense no título uó em português: Amor e Inocência, feião...). Meu gasto de energia é o PC. Não adianta, a TV não me chama a atenção: o negócio é pegar logo meu mini-system, pra nem através do DVD mais precisar mais ligar a tevê.

Já passei da fase mais lerda. Antes só queria saber de dormir, nem cozinhar queria. Hoje fui à rua e fiz umas comprinhas. Básicas. Cereja em calda, isso é básico? Porra nenhuma, um ou dois itens supérfluos dentre o mar de fibras e carboidratos que comprei. Massa, molho pronto, sobre-coxa, uns iogurtes, refri... Chamei uma amigona e ela deu altas dicas. Deu uma listinha boa, tive direito até a delivery. Tive direito até a esquecer também de comprar outras coisas - eu tenho pra mim que coloquei as patitas no carrinho errado, dane-se...